Como exportar alimentos para os EUA

Exportar alimentos para os EUA pode parecer um desafio. Essencialmente, o processo exige que sua empresa esteja registrada na FDA (Food and Drug Administration), designe um agente nos EUA e cumpra as normas de segurança e rotulagem, como as definidas pela lei FSMA. 

O mercado americano é, sem dúvida, um dos mais cobiçados do mundo. É diversificado e tem um grande poder de compra. 

Colocar seus alimentos na prateleira de um supermercado em Nova Iorque ou Miami é um selo de qualidade e uma porta de entrada para um crescimento global.

Os Estados Unidos levam a segurança alimentar muito a sério. O órgão que rege essa área, a FDA, não facilita a vida dos exportadores.

Este artigo foi pensado para você, empresário, que vê esse potencial, mas não sabe por onde começar a decifrar as siglas FDA, FSMA, FSVP, PCQI... 

Entendendo a FDA e a FSMA

Se você quer exportar alimentos para os EUA, o primeiro nome que você precisa gravar é FDA (Food and Drug Administration). 

A FDA regula praticamente tudo que é consumido nos Estados Unidos, desde alimentos processados, bebidas, suplementos, até ração animal. (Carnes, aves e ovos processados têm regras específicas do USDA, mas a FDA ainda supervisiona a rotulagem e outros aspectos).

Por décadas, a FDA operou num modelo reativo. Ou seja, eles esperavam um problema acontecer (como um surto de contaminação) para depois agir. 

Em 2011, tudo mudou com a assinatura da FSMA (Lei de Modernização da Segurança de Alimentos).

A FSMA é, talvez, a mudança mais radical na legislação de segurança alimentar dos EUA em mais de 70 anos. 

O que isso significa na prática? A FDA agora exige que você, o produtor aqui no Brasil, prove que tem controle total sobre os riscos do seu processo produtivo. 

A responsabilidade de garantir a segurança foi transferida da inspeção no porto de chegada para a origem, lá na sua fábrica. Se você não puder provar que seu processo é seguro, seu produto não entra no país.

Passo a Passo Burocrático: O Registro FDA

Antes de pensar em enviar sua primeira amostra, existe um passo administrativo inescapável: o Registro FDA.

O que é o Registro de Instalação (Food Facility Registration)?

Qualquer instalação que fabrique, processe, embale ou armazene alimentos destinados ao consumo humano ou animal nos EUA deve se registrar no FDA. Isso inclui a sua fábrica no Brasil.

Esse registro é gratuito e feito online, mas não se engane pela simplicidade aparente. Preencher informações erradas ou de forma incompleta pode levar à suspensão do seu registro e, consequentemente, à recusa de suas mercadorias na fronteira. 

O registro gera um número (o FFR Number), que será exigido em praticamente todos os documentos de exportação.

O Agente FDA nos EUA (U.S. Agent)

Como sua empresa não está fisicamente nos EUA, a FDA exige que você designe um Agente FDA nos EUA (U.S. Agent).

Esse agente não é um vendedor ou um distribuidor. Ele é o seu ponto de contato oficial para comunicações com a FDA. Se houver uma emergência, uma inspeção ou qualquer notificação regulatória, é o seu U.S. Agent que a FDA procurará. 

Ele precisa estar fisicamente localizado nos EUA e disponível 24/7 para atender a FDA. Muitas empresas de consultoria especializadas oferecem esse serviço, como o B2B TradeCenter.

Renovação: Não esqueça do biênio!

O registro FDA não é vitalício. Ele deve ser renovado obrigatoriamente a cada dois anos, sempre em anos pares, entre 1º de outubro e 31 de dezembro. 

Se você perder essa janela de renovação, seu registro é considerado expirado, e seus produtos serão barrados. 

O Plano de Segurança Alimentar

Muitas empresas brasileiras já trabalham com o sistema HACCP (ou APPCC, em português), o que é ótimo. No entanto, a FSMA vai além. 

Ela introduz o conceito de HARPC (Hazard Analysis and Risk-Based Preventive Controls), ou Análise de Perigos e Controles Preventivos Baseados em Risco.

A diferença é sutil, mas fundamental. O HARPC exige que você identifique não apenas os riscos tradicionais (microbiológicos, químicos, físicos), mas também riscos "novos", como sabotagem intencional (defesa alimentar ou food defense), riscos radiológicos e perigos introduzidos por fornecedores.

Quem precisa de um PCQI?

Seu plano de segurança alimentar precisa ser preparado (ou, no mínimo, supervisionado) por um "Indivíduo Qualificado em Controles Preventivos", ou PCQI (Preventive Controls Qualified Individual).

Este não é um título que você se autoconcede. O PCQI é um profissional que completou um treinamento específico padronizado pela FDA (ministrado pela FSPCA).

Ter um PCQI na equipe, ou contratar uma consultoria que tenha um, é mandatório. Ele será o responsável por validar seu plano, revisar seus registros e garantir que tudo esteja funcionando como deveria.

A Rotulagem de Alimentos para os EUA

Seu produto passou pela burocracia, seu plano de segurança está impecável. Agora, vamos falar sobre a "cara" do seu produto: o rótulo. 

A rotulagem de alimentos nos EUA é um dos principais motivos pelos quais produtos são detidos na fronteira.

Achar que basta traduzir seu rótulo atual do português para o inglês é um erro. A regulamentação americana é completamente diferente da brasileira (ANVISA).

O "Nutrition Facts Panel"

A tabela nutricional americana (Nutrition Facts Panel) sofreu grandes mudanças recentemente. Esqueça o formato que você usa no Brasil. A FDA dita:

  • Tamanhos das Porções (Serving Sizes): São definidos por lei, com base em quanto o americano realmente consome (RACC - Reference Amounts Customarily Consumed), e não em porções arbitrárias.
  • Açúcares Adicionados: É obrigatório declarar separadamente os açúcares que foram adicionados durante o processo, não apenas o açúcar total.
  • Valores Diários (%DV): As porcentagens de referência de vitaminas e minerais são diferentes das usadas no Brasil.
  • Design: O tamanho da fonte da caloria, o negrito, a ordem dos nutrientes... tudo é padronizado.

Declaração de Alergênicos

Os EUA exigem a declaração clara dos "Big 9" (Os 9 Maiores Alergênicos): leite, ovos, peixe, crustáceos, nozes (castanhas), amendoim, trigo, soja e, o mais recente, gergelim. A forma de declarar (ex: "Contém: Trigo, Leite.") é específica.

"Claims" (Alegações): Cuidado com o que você promete

Quer dizer que seu produto é "Light", "Saudável", "Sem Glúten", "Natural" ou "Orgânico"? Cada uma dessas palavras é um "claim" (alegação) regulamentada pela FDA.

Dizer "Low Fat" (Baixo teor de gordura) só é permitido se o produto atender a um limite específico de gramas de gordura por porção. 

Usar o termo "Natural" é extremamente arriscado e complexo. O "Sem Glúten" exige testes e garantias.

A rotulagem é uma das áreas mais complexas e que mais causam recusas. Evite retrabalho, custos de reimpressão e a detenção do seu produto; considere o suporte da assessoria regulatória especializada do B2B TradeCenter para garantir 100% de conformidade desde o início.

A Logística: Da sua Fábrica ao Porto Americano

Você está quase lá. Seu produto está registrado, seguro e com o rótulo correto. Agora, como ele chega lá?

O Aviso Prévio de Importação (Prior Notice - PN)

Este é outro requisito administrativo importante. Para cada embarque de alimento que você envia aos EUA, você deve submeter eletronicamente um "Aviso Prévio" (Prior Notice) a FDA.

Este aviso informa a FDA e ao CBP (Alfândega e Proteção de Fronteiras) exatamente o que está chegando, de quem, para quem e quando. 

O PN deve ser submetido dentro de uma janela de tempo específica (nem muito cedo, nem muito tarde) antes da chegada da carga. 

Sem um PN confirmado, a carga não pode nem ser descarregada.

Despacho Aduaneiro nos EUA (Customs)

Quando seu produto chega ao porto ou aeroporto nos EUA, ele está sob o controle do CBP, que trabalha em conjunto com a FDA. 

O seu despachante aduaneiro americano (Customs Broker) submeterá a entrada.

Nesse momento, a FDA revisa seus documentos (incluindo o registro FDA, o PN e as informações do produto) e decide o status da sua carga. Eles podem:

  • Liberar (May Proceed): Ótimo! Seu produto segue para o distribuidor.
  • Reter para Exame (Hold for Exam): A FDA pode decidir inspecionar fisicamente a carga ou coletar amostras para análise em laboratório.
  • Reter (Detention): Se algo estiver errado (rótulo incorreto, registro expirado, suspeita de contaminação), seu produto fica detido.

Se um produto é detido, você tem um curto período para provar que ele está em conformidade.

Se não conseguir, a carga será recusada (Refused) e você terá que destruí-la ou retorná-la ao Brasil, arcando com todos os custos.

Vale a Pena o Esforço?

Sim, exportar alimentos para os EUA é um processo complexo. 

Os requisitos FDA são rigorosos. A lei FSMA exige um alto nível de controle de processo e a rotulagem de alimentos nos EUA não permite amadorismo.

No entanto, é um processo 100% gerenciável. O sucesso não depende de sorte, mas de preparação.

A conformidade regulatória não deve ser vista como uma barreira, mas como um diferencial competitivo. Ao estar em conformidade com a FDA, você sinaliza ao mercado que seu produto tem um padrão de qualidade global.

Não deixe que a burocracia impeça sua expansão. O mercado de alimentos dos EUA movimenta trilhões de dólares e está esperando pelo seu produto. 

Se precisar de um parceiro para navegar por esses requisitos FDA, nossa equipe de assessoria regulatória está pronta para ajudar a transformar esse desafio em uma história de sucesso!

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